No campo das Constelações Familiares, desenvolvida por Bert Hellinger, a exclusão do pai é vista como uma das atitudes mais prejudiciais para o desenvolvimento pleno de uma pessoa. Rejeitar ou desprezar o pai, consciente ou inconscientemente, é como negar uma parte essencial de si mesmo. As consequências dessa rejeição podem se manifestar de diversas formas, afetando profundamente a realização pessoal, os relacionamentos e até a trajetória profissional.
O Papel do Pai na Vida do Filho
Hellinger enfatiza que pai e mãe têm igual importância na formação do sistema familiar. No entanto, seus papéis são complementares. Enquanto a mãe é a fonte de nutrição e o primeiro contato com a vida, o pai representa o mundo externo, a amplitude e o espírito.
Nos primeiros meses de vida, o bebê está em completa simbiose com a mãe. Ela é a figura central, seu "Deus" particular, fornecendo tudo de que ele precisa. Porém, por volta de um ano e meio, inicia-se um processo de separação emocional. Nesse momento, o pai assume um papel vital como mediador dessa transição, ajudando a criança a desenvolver autonomia e a explorar o mundo além da relação simbiótica com a mãe.
Hellinger explica essa dinâmica com clareza:
"Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele não é cuidadoso como o da mãe. O pai representa o espírito. Por isso, o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente."
A Rejeição aos Pais e Suas Consequências
Rejeitar o pai ou a mãe é, em essência, rejeitar partes de si mesmo. Quem rejeita o pai, por exemplo, pode sentir-se vazio, sem propósito e incapaz de realizar-se plenamente. Isso porque a relação com o pai reflete diretamente na maneira como nos relacionamos com a profissão, figuras de autoridade, parceiros amorosos (especialmente no caso das mulheres) e nossa inserção no mundo.
Pessoas que não conseguem "tomar" o pai muitas vezes enfrentam dificuldades em estabelecer uma carreira sólida, ou até mesmo em definir uma profissão. Em casos mais graves, quando a mãe esconde a identidade do pai ou impede o filho de acessá-lo por mágoas pessoais, a criança pode crescer com um vazio emocional. Na vida adulta, esse vazio pode se manifestar como uma fuga da realidade – seja por meio de vícios, seja por uma devoção cega a ideologias extremas.
Aceitar os Pais como Eles São
Hellinger nos ensina a deixar com os pais aquilo que pertence ao destino deles, com suas conquistas e faltas. É essencial reconhecê-los como seres humanos comuns, que vieram de suas próprias histórias e limitações. Eles nos deram o que podiam, dentro de suas condições emocionais e materiais.
Aceitar pai e mãe como são é um passo poderoso em direção à liberdade interior. Honrá-los não significa concordar com tudo o que fizeram, mas reconhecer que, por meio deles, recebemos o maior presente de todos: a vida.
Abraçar esse legado é um ato de reconciliação com o próprio destino – e o início de uma jornada rumo à realização plena.
Aceitar o Pai como Ele É
Aceitar o pai significa reconhecê-lo como ele é, com suas virtudes e limitações. Esse ato de aceitação não implica concordar com seus erros, mas reconhecer que, através dele, recebemos a vida.
Honrar o pai é também um ato de humildade. É deixar com ele o que pertence ao seu destino e tomar para si o presente da vida, com tudo o que ela oferece. A exclusão do pai, por outro lado, é uma forma de negar uma parte fundamental de nossa existência – e, por isso, é tão perigosa.
Se você não gosta do seu pai por qualquer coisa que ele tenha feito está tudo bem. Consegue mesmo assim aceitar que dele veio a vida que você respira? Isso é tudo que você realmente precisa fazer.
Concordar com o pai que ele é ou foi pra você. Foi ausente? Foi cruel? Tudo bem. Tome-o mesmo assim. Tome-o exatamente pelo que ele foi. O pai ausente, distante, aquele que você se sente desconectado. Concorde que o que ele te deu foi o bastante. Se foi apenas a vida foi o bastante. Se ele foi cruel e abusivo, entendo o quanto isso pode ser difícil. Tome-o pelo que ele foi, abusivo e cruel no seu papel para com você, olhe para as feridas abertas para curar não ressenti-las, veja como algo que a experiência trouxe à tona, mas já existia no seu interior, precisa vir à tona para curar. Pode ser uma ferida ancestral ressoando na dinâmica de vocês.
Diga a si mesmo: "Mesmo que eu me sinta melhor sozinha(o) do que com meus pais, escolho ser grata por eles terem me dado o presente da vida.”
Conclusão: A Paz Começa com a Inclusão
O caminho para a paz interior e para uma vida plena começa com a inclusão dos pais – ambos, mas hoje estamos falando especialmente da figura do pai – no lugar de direito que ocupam no sistema familiar. Respeitá-los e honrá-los, independentemente de suas ações ou omissões, é essencial para restaurar o equilíbrio interno e acessar todo o potencial da própria existência.
Essa inclusão, no entanto, não exige convívio físico ou uma relação próxima. Muitas vezes, o pai já faleceu, é desconhecido ou não o contato simplesmente não é desejado. O que importa é dar um lugar a ele na consciência e no coração. Esse movimento interno é uma forma de reconhecer a herança que nos foi transmitida e, assim, permitir que a vida flua em sua totalidade.
Embora para alguns esse processo seja desafiador e possa levar anos, ou até mesmo uma vida inteira, é um passo essencial para quem busca reconciliação consigo mesmo e com o mundo. A inclusão é um ato de coragem e amor que abre as portas para a paz verdadeira.
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