Pai: o caminho para o mundo – Constelação Familiar

 Quando a criança chega ao mundo, o mundo é um novo lugar. A criança traz para ela um amálgama de variáveis de ambos os pais, uma mistura de forças e sabedoria, vulnerabilidades e bolsões de desconhecimento. Uma criança incorporará energias de ambos os sistemas familiares sem ter a capacidade de escolher. ( ou tendo escolhido na concepção) Ainda mais tarde, quando a criança se torna adulta, “escolher e escolher” tem uma camada profundamente subconsciente que afeta a forma e o conteúdo dessas decisões.

Em seu apoio à mãe, o pai desempenha um papel profundamente importante no bem-estar de seus filhos.

O papel mais importante do pai na família é o apoio à mãe. Esse é o primeiro papel. A mãe carrega o bebê e dá à luz, e se ela estiver sob tensão emocional durante este importante período de desenvolvimento para a criança, toda a unidade familiar será afetada. Se a mãe e o pai não eram um casal forte antes de terem filhos, se não queriam filhos, se a mãe sentia pressão do pai para produzir um sexo específico, se o pai estava ausente do sistema familiar por qualquer motivo, se a família era afetado por trauma ou tragédia, se a mãe e o pai estavam em um relacionamento volátil, ou se a mãe ou o pai estavam emocionalmente indisponíveis ou distantes devido às feridas da infância do próprio sistema familiar, então as crianças podem sofrer emocionalmente de alguma forma enquanto se sacrificam inconscientemente equilibrar o que está fora de equilíbrio dentro de si e no sistema familiar.





Por amor ao sistema familiar e lealdade aos pais, avós e antepassados, os filhos se sacrificam inconscientemente, apoiando os pais emocionalmente necessitados. Eles podem se sacrificar para ajudar a mãe com seus problemas e até se oferecer para compartilhar ou carregar seus fardos ou destino. Meninos jovens, até mesmo crianças pequenas, tornam-se “o homenzinho” da casa se o pai estiver emocional ou fisicamente ausente. Garotinhas se tornam ajudantes da mamãe e começam a assumir muita responsabilidade. Este é um fardo muito grande para qualquer criança tentar carregar. É uma ilusão para qualquer criança sentir que pode intervir para substituir emocionalmente o pai pela mãe ou vice-versa. Essa mesma dinâmica pode ocorrer se a criança sentir que a relação sexual entre mãe e pai é fraca. A criança entrará inconsciente e energeticamente para equilibrar esse desequilíbrio. O relacionamento com o pai é frequentemente comprometido quando há um colapso conjugal.

Pais nos levam para o mundo, apresentam oportunidades, complementam nossa coragem quando necessário. Nos fazem seguir em frente.

Há, com certeza, algo especial em como um pai e uma mãe se complementam. Seus papéis podem variar, mas não existe um pai sem haver uma mãe e vice-versa. A concepção precisa destes dois papéis.

A mãe é de quem o filho mais precisa nos primeiros anos. Mas o tempo passa, e garantida a sobrevivência dos primeiros anos, será o pai que guiará o filho para o mundo, para a descoberta, para o vôo. O "desapego" do pai da liberdade para independência da criança se desenvolver.

Pais são nossos referenciais para o masculino. Para um filho homem, é onde ele encontra a força para ser o que seu papel permite. Através da vivência com o pai, um garoto cresce e vive o que há de mais poderoso no mundo masculino, e aos poucos vai encontrando sua identidade e suas possibilidades. O mesmo ocorre com a filha mulher, com a diferença que após os primeiros anos com a mãe, a filha deve ir para o pai, aprender a caminhar no mundo e então, voltar para a mãe, onde ela deve tomar todo o feminino que precisa para seguir adiante.

Nos dois casos, o pai é essencial para o bom desenvolvimento dos filhos e para que o movimento deles para o mundo seja realizado com sucesso.

Dentro do sistema familiar, o homem e a mulher têm prioridades iguais. Eles criam a família juntos, eles são equivalentes.

Em relação aos filhos, o homem e a mulher são igualmente grandes. Porém é dentro da mãe que começa a vida. Dentro dela somos concebidos, dentro dela nós crescemos. Ela é tudo pra nós, com ela experienciamos a unidade, até que nascemos.

O que então ainda resta ao pai?

Bert Hellinger diz:
“Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele nao é cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai representa o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente.”



 

“Para percebermos a diferença da forma como o pai e a mãe lidam com o filho basta imaginar um passeio com as crianças num parque, por exemplo. A mãe, preocupada e cuidadosa, a todo o tempo fala para o filho: ‘não suba na árvore’, ‘cuidado para não cair’, ‘não corra’… E sim, desta forma realiza com grande eficiência seu trabalho de cuidar dos filhos. O pai, ao contrário, ao chegar em um ambiente assim, verifica os possíveis riscos e se coloca de uma forma a preservar o filho longe deste lugar perigoso. Atento, o deixa livre para explorar.” - Maria Inês Araujo Garcia da Silva

Essa liberdade é necessária para que o filho possa perceber o mundo, e mais tarde caminhar para a vida de forma completa.

Por isso o progresso vem principalmente do pai. Quando a mãe quer manter os filhos longe do pai, ela os mantém longe do progresso. O movimento vai através da mãe para o pai e através do pai para o mundo. Assim o filho fica completo.

Uma das formas que você pode curar seu relacionamento paterno é através da Constelação Familiar, saiba O que é Constelação Familiar e como ela age na cura das relações familiares e pessoais.

APRENDER A ACEITAR SEU PAI É CONDIÇÃO PARA TER VIDA MELHOR

E os pais que nos foram difíceis ? “Eu não consigo aceitá-lo.”

Na visão sistêmica das Constelações Familiares, tomar pai e mãe, ou seja, honrá-los e aceitá-los como são e como puderam ser, é a condição para se poder tomar a vida que veio deles. Esse ato de tomar é um ato de humildade. Representa um sim à vida e ao destino.

Não aceitar ao pai é não aceitar a sua realidade . As pessoas que ficam na acusação aos seus pais, saem pelo mundo, negando seu afeto, e desejando outros pais, um para cada situação da vida. Vivem o mundo da fantasia, onde neste lugar imaginário cada pessoa é exatamente como ela deseja.

Nós como filhos, temos dificuldades de encarar os pais como os seres humanos que são. Para os que tem dificuldade de um olhar mais benevolente sobre os pais, só restam as acusações. De que faltou, de que deveria ser diferente, de que o pai “deveria” ser assim.

Fazemos um jogo de mágica, e no caminho, direcionamos a raiva para nós mesmos. De forma inconsciente, o que atua é: como posso amar esse homem? Se ele não foi o que eu desejei, como posso ainda estar vinculado a ele?

As acusações os afastam da realidade para não ter que aceitar um novo olhar para seu próprio amor.

Quem rejeita o pai, rejeita a si mesmo e sente-se vazio, sem realização, sem propósito de vida.

A maneira como nos relacionamos com ele, hoje e no passado, vai se refletir mais tarde na maneira como nos relacionamos com a nossa profissão, com figuras de autoridade, com os nossos parceiros (no caso das mulheres) e em como nos sentimos inseridos no mundo.
“Sim, pois o pai existe. Ele é o que é. Da forma como foi e como tudo aconteceu. O papel de um pai e também de uma mãe não está atrelado à aceitação dos filhos.”

Um bom caminho de volta aos braços do pai é ver o que verdadeiramente o move. O Amor escondido em atos de humanidade. É dar a ele o tamanho devido, não imaginário.

Hellinger nos instrui a deixar com os pais o que pertence ao destino deles, com tudo o que faz parte e tudo que faz falta. É necessário reconhecê-los como pessoas normais e comuns e que vieram de seus próprios emaranhamentos.

Aqui talvez valha olhar para si próprio e as dificuldades que não conseguimos resolver. Se estamos neste caminho de vida, em algum momento podemos nos tornar pai e mãe, e carregaremos para esta experiência o que nos compõe hoje, com todas as dores e amores. Nossos pais estiveram nesta mesma posição, por vezes influenciados por algo que não conseguiram escapar.
Estes papéis foram definidos no vínculo gerado no momento da concepção. E não há outros que possam ocupá-los. Para cada filho, há somente um pai e uma mãe. Se fosse outro pai, ou outra mãe, seria também outro filho.

Como filhos, por vezes julgamos nosso pai como insuficiente, desejando coisas diferentes do que recebemos. Esse é um caminho duro para todo o sistema, onde todos sofrem e de certa forma, todos nós passamos por ele.

Sabemos que muitas crianças crescem sem o pai biológico em sua vida cotidiana, e muitas mais olham para trás e consideram que seu pai esteve ausente. Deixe a questão do porquê para o lado por enquanto, estou pensando sobre o que está faltando quando o pai está faltando.

Por isso, colocamos abaixo a carta de Bert Hellilnger ao seu pai, onde ele fala que, como filho, já se colocou nesta posição de juiz do pai. Ao mesmo tempo, percebe o vazio que fica ao não ter seu pai no coração.

Independente do sistema familiar em que você cresceu, e quem representou o papel do Pai para você. Você pode ser grato ao seu progenitor, aquele que fez parte da sua concepção cuja genética e epigenética você herdou, pelo simples ato de passar a vida adiante. A benção da vida é dada na concepção. Honrar a benção é ser grato a ela.

Carta de Bert Hellinger para seu pai

Querido papai,

Por muito tempo eu não soube o que me faltava mais intimamente.

Por muito tempo, querido papai, você foi expulso de meu coração.

Por muito tempo você foi um companheiro de caminho para quem eu não olhava, porque fixava meu olhar em algo maior, como me imaginava.

De repente, você voltou a mim, como de muito longe, porque minha mulher Sophie o invocou.

Ela viu você, e você me falou por meio dela.

Quando penso o quanto me coloquei muitas vezes acima de você, quanto medo também eu tinha de você, porque muitas vezes você me batia e me causava dores, e quão longe eu o expulsei de meu coração e tive de expulsá-lo, porque minha mãe se colocava entre nós; somente agora percebo como fiquei vazio e solitário, e como que separado da vida plena.

Porém, agora você voltou, como que de muito longe, para minha vida, de modo amoroso e com distanciamento, sem interferir em minha vida.

Agora começo a entender que foi por você que, dia a dia, nossa sobrevivência era assegurada sem que percebêssemos em nosso íntimo quanto amor você derramava sobre nós, sempre igual, sempre visando o nosso bem-estar e, não obstante, como que excluído de nossos corações.

Algumas vezes lhe dissemos como você foi um pai fantástico para nós?

Você foi cercado de solidão e, não obstante, permaneceu solícito e amoroso a serviço de nossa vida e de nosso futuro.

Nós tomávamos isso como algo natural, sem jamais honrar o que isso exigia de você.

Agora me vêm lágrimas, querido papai.

Eu me inclino diante de sua grandeza e tomo você em meu coração.

Tanto tempo você esteve como que excluído do meu coração.

Tão vazio ele estava sem você.

Também agora você permanece amigavelmente a uma certa distância de mim, sem esperar de mim algo que tire algo de sua grandeza e dignidade.

Você permanece o grande como meu pai, e tomo você e tudo que recebi de você, como seu filho querido.

Querido papai,

Seu Toni (assim eu era chamado em casa).”

Leia a carta com seu pai em mente. Escreva a sua carta para os pais que você teve. Mas inclua o pai biológico ao invés de excluí-lo por qualquer razão.

Do ponto de vista da alma você escolhe seus pais biológicos, há um acordo onde cada um concorda em doar uma parte de si para construir um novo corpo, uma nova vida humana. A existência humana é o primeiro presente, e inclui a herança não só biológica mas histórica de toda a família. Os potenciais de como esses relacionamentos se desdobrarão também são conhecidos pelo espírito, logo de alguma forma seus pais lhe ofereceram não somente o melhor dentro de suas condições pessoais, e emocionais como muito provavelmente, o melhor cenário para você curar e desenvolver o que veio para.

Se você acha isso útil, compartilhe com outras pessoas.  
@interconexão

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