Arquétipo da Tecelã - Tramas do Destino, Fios que tecem o Sagrado e a individuação Feminina (Deusas Tecelãs)



Os fios têm como simbolismo a ligação de todos os estados de existência entre si e ao Todo.  São considerados símbolos míticos na criação da ordem cósmica, nas relações e  na determinação do destino.  Os fios faz muito tempo contam histórias e mitos através das mulheres tecelãs.

Tecer é também uma imagem arquetípica da própria vida, uma trama feita de muitos fios, experiências, pessoas, sentimentos e acontecimentos diferentes.

Nas tradições antigas, na qual a sociedade era Matriarcal, o símbolo da teia da aranha representavam a Grande Mãe. O mistério primordial de tecer e fiar tem sido projetado sobre o grande feminino, a Senhora do Tempo e consequentemente, do Destino.  

A Grande Mãe, a Deusa criadora da vida considerada um arquétipo que as definem como Deusas Tecelãs, governa o crescimento e o tempo cíclico,  dia e noite, as estações, os ciclos lunares, a menstruação e gravidez das mulheres. 

Como Deusa Fiandeira ela fia e tece não só a vida humana, mas também o destino do mundo, transformando o caos informe em realidade estruturada.  Como Deusa Tecelã, ela cria os fios que formam a estrutura do universo.

Na tradição islâmica, o tear é símbolo da estrutura e do movimento do universo. 

"A magia que transmuta lã, seda, linho, algodão ou outro material em fios e com ele tece panos para os mais variados usos, permitiu aos nossos ancestrais sobreviverem nas regiões frias e quentes do planeta. E esta magia era realizada originalmente pelas mãos das mulheres, sob a inspiração da Deusa."  Monika von Koss

Segundo o mito greco-romano a Deusa Tríplice, nas formas de"Nona" (Cloto), "Décima" (Láquesis) e "Morta" (Átropos) controlavam o fio da vida, definiam o nascimento, acontecimentos e a ruptura da vida. 

Deusas Parcas,ou Moiras como as Senhoras do Destino.  Filhas de Zeus e Têmis, representadas pela Tríade, as três deusas da sorte dos seres humanos. Nona tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho, Morta corta o fio. 

Cloto em Grego, significa fiar, deusa que fia. A Deusa Cloto têm a aparência de uma menina vestida de azul, usa uma coroa de sete estrelas e segura um fuso que “desce do céu à Terra e na outra mão o fio do destino humano”  considerada também como a Deusa do Nascimento. 

A Deusa Láquesis, que em Grego significa sorte, põe o fio no fuso, sua veste rosa é repleta de estrelas, rodeada de inúmeros fusos em sua volta, ela enrola o fio e sorteia quem morrerá, sendo também considerada a Deusa do casamento, representando aspectos da mulher madura. 

 Átropos, que significa inflexível, corta o fio da vida.  É representada por uma anciã vestida de preto,  ao seu redor há vários novelos de fios incompletos, alguns com mais, outros com menos, simbolizando o tempo de vida na Terra. 


As moiras, com o fio da vida Alegoria, por Strudwick, 1885
As moiras, com o fio da vida Alegoria, por Strudwick, 1885

As Deusa Parcas são representações simbólicas da relação tempo/destino, interagem na concepção interna e cronológica do indivíduo, conduzindo aos ritos de passagem do ser humano.

Aqui o arquétipo nos fala do fio que transita e transforma cada fase da vida, a jovem a madura e anciã. Assim é você quem tece o seu destino do inicio ao fim, cada fase representada ou regida pela energia de uma das faces da Deusa. 


Ariadne e Teseu -  "fio de Ariadne"

 Ariadne a princesa de Creta,  Senhora do Labirinto.  Filha do rei Minos e da rainha Parsíofene, filha de Hélio.  Ariadne foi esposa do Deus Dionísio e apaixonada pelo herói grego Teseu. 

 O jovem Teseu era o rei de Atenas e foi voluntariamente oferecido ao sacrifício o ritual do Minotauro, um ser híbrido, metade homem, metade touro que ficava preso num labirinto no jardim do palácio do rei Minos.  

Quando o filho do rei Minos foi assinado nas ruas de Atenas, os atenienses para reparar o erro e evitar uma guerra entraram numa espécie de acordo. De nove em nove anos o povo de Atenas deveria enviar para Creta quatorze jovens, sete homens e sete mulheres, para serem entregues a sacrifício para o Minotauro.

Quando Teseu cresceu  manifestou a coragem para ser oferecido ao Minotauro.  Mas ele tinha um plano, para derrota-lo.  Desembarcando em Creta,  Ariadne fica encantada pela gentileza e coragem do jovem rei Teseu.  Então, ela própria sugere um plano.  Ela o leva ao labirinto, e dá a ele uma espada e um novelo de lã vermelha,  assim ele poderia encontrar o caminho de volta.   Teseu conseguiu vencer o Minotauro e sair do labirinto, logo após Ariadne e Teseu partiram rumo a Atenas. 

Da lenda surge o termo  Fio de Ariadne  usado hoje para descrever a resolução de um problema através de uma aplicação lógica que considera  todos os meios disponíveis, seguindo todos caminhos, conectando todas as possibilidades

É um processo que  visa definir as alternativas e seguir o fio para poder  regressar   a uma decisão anterior e tentar outras alternativas quando alguma no caminho falhar. 

A todo instante que há uma escolha a ser feita, escolha uma, se deu errado volte e escolha uma  daquelas não marcadas como fracassadas. Em qualquer ponto do caminho que algo não der certo, volte a última decisão, marque-a como fracassada, e tenta outra decisão do mesmo ponto. Caso nenhuma outra opção exista naquele ponto, volte um pouco mais atrás, até  onde exista e  marque o fracasso àquele nível, e prossiga.

O labirinto representa as situações  no qual tantas vezes o ser humano se vê enredado sem  estar totalmente consciente de como foi parar lá. As causas, as escolhas que os levaram às difíceis situações na vida podem ser seguidas como o Fio de Ariadne. Seguir esse fio para trás e tomar consciência de quais foram essas ações e interpretações que criaram aquele caminho é como você se liberta. Aqui você não pode voltar no passado e fazer uma escolha diferente, mas ao entender como aquilo te  impulsionou para estar onde está você  pode dar uma interpretação diferente, ressignificar e tecer um novo destino.

 

Aracne

A mais conhecida tecelã é a deusa grega Atena, a deusa Atena, era a deusa virgem, patrona de todas as artes e ofícios.  Responsável pelas estratégias de guerras e artes domésticas principalmente a tecelagem 

Na Grécia Antiga o mito da Aranha é representado por Aracne.  Aracne era uma donzela tecelã abençoada com um talento raro para tecer que atraia a admiração de humanos e imortais - um dom ofertado pela Deusa Atena. Os homens e mulheres que teciam eram filhos de Atena, e por vezes ela ofertava o dom para os humanos.  Aracne recebeu o seu dom, porém não reconhecia a Deusa como doadora, desafiando a imortal numa competição. 

 “Orgulho arrogante, que ilustra vividamente o talento sem humildade, nem sempre traz o sucesso.” Greene e Burke (2001, p.139)  

 A Deusa Atena aceitou o desafio, e teceu a história dos Deuses do Olímpio.  Já Aracne  optou por zombar dos deuses, tecendo histórias em que eles tinham sido envergonhados: Zeus cortejando mortais de maneiras indignas, Apolo trabalhando humildemente como pastor na Terra, Dioniso embriagado fazendo travessuras.  Porém ela teceu de uma forma única e bela. Atena, sentiu-se ofendida não apenas pela beleza da obra, mas pelas histórias contadas na tapeçaria.  Neste momento Atena transformou Aracne na primeira aranha da Terra.

“Destinada a tecer para sempre, mas sem nenhum reconhecimento.” Greene e Burke

Mulher aranha

Para os povos pré-colombianos, a deusa que foi chamada de Mulher Aranha de Teotihuacan representa uma Deusa criativa adorada pelos primeiros povos no que hoje é o México. A Mulher-Aranha é um personagem fundamental e sábio, ora mensageira do Sol, ora avó do próprio Sol e organizadora da vida na Terra. A aranha é a tecelã da natureza.

Uma história Cherokee conta que a aranha desempenha um papel fundamental em um mito de origem, trazendo luz ao mundo e criando a vida como a conhecemos na Terra. Quando outros animais não tiveram sucesso, foi a Avó Aranha que conseguiu tornar o mundo habitável.

Deusa Neit

No Egito Antigo a fiandeira cósmica, a grande mãe era conhecida como a Deusa Neit. Criadora do mundo e mãe do Deus sol, Ra, mãe de todos os Deuses. 

A Grande Deusa fia e tece toda a existência do caos bruto em realidade. Por isto, o fiar e o tecer são, desde os primórdios, atribuídos ao universo feminino. 

Nornas 

Na mitologia nórdica o fiar e o tecer do destino é decretado pelas Nornas,  três anciãs que moram em uma das raízes de YggdrasilA sua função é controlar o destino, a sorte, o azar e a providência. Seu controle é sobre todos os seres dos 9 mundos, incluindo os deuses.

Urd é a guardiã do Passado, é representada por uma criatura da raça humana de idade extremamente avançada. Dentro de suas obrigações está guardar os mistérios do passado e não metaforicamente não fornecer as chaves dos segredos antigos;

Verdandi é a vigia do Presente, encarna-se na forma de uma mãe e tudo que acontece é tecido por seus pensamentos. Ela representa o movimento, a continuidade.

Skuld ou Skald é a guardiã do Futuro, representada por uma virgem. Profecias e adivinhações estão relacionadas a ela. Skuld detém o controle de uma das maiores forças do universo: o Destino.



Tramas do destino

A Aranha, a teia e as Deusas Tecelãs fazem parte dessa mesma  teia arquetípica.

Enquanto mito e arquétipos atuantes na psique elas nos ensinam a tecer e a reconhecer como tecemos a estrutura do nosso próprio destino, ao mesmo tempo nos lembram que ao tecermos nosso próprio tecido e individualidade, não devemos perder a noção de que estamos conectados com todos os demais através da grande teia cósmica.

Precisamos desse arquétipo para tecer nosso feminino e desenvolver suas qualidades, nossas emoções, nossas experiências de vida, nossa visão de mundo, nossa mentalidade, para com tudo produzir um padrão individual, único, inigualável dentro da grande malha divina.

O fio da vida, a linha do tempo, o laço que une as pessoas destinadas a se encontrar, o vinculo que nos liga a nossa família do fio sagrado passado através dos nossos ancestrais até nós. 

Somo tecelões por um tempo, o tempo que estamos aqui, mas o tear da vida continuará fiando e a Deusa Tecelã continuará a trama através daqueles que ficam depois que partimos. Use bem o novelo do tempo  que você recebeu...escolha sabiamente o que tecer, e como Penélope que tecia de dia e desmanchava a noite a espera do marido em a Odisseia, escolha o que você quer desfazer, quando desfazer estiver a seu alcance, escolha o que vale a pena esperar.

 Talvez no fio do destino algumas coisas já estejam amarradas, tramadas para acontecer, vidas entrelaçadas... mas seguindo o exemplo da Odisseia, ainda que Ulisses estivesse destinado a voltar para Penélope, quanto tempo e com que dificuldade ele cruzou o mar de volta foi uma consequência direta das ações e da postura do próprio, essas escolhas foram a trama que ele mesmo teceu.

@interconexão

Arquétipo da Aranha - Arquétipo Filtro dos sonhos; presente da Aranha




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